Lugares transitórios. Onde sentimos mais que afinal podíamos não pertencer a lugar nenhum. Há a ideia de uma casa. Mais ou menos permanente. Mais ou menos quieta. E há os lugares todos onde estamos mesmo de passagem. Como os hotéis. Metáforas muito cheias de nós. Talvez por nos darem hipóteses libertadoras. De nos perspectivarmos isolados. Fora da nossa zona de conforto. Longe de objectos acumulados. Longe de uma série de significantes. E de significados. E de repente podíamos ser outros que não nós. Personagens num palco transitório. Há uma hermenêutica própria para isto de andarmos em trânsito. De estarmos sozinhos, mesmo que até nem seja bem assim. Mas a metáfora é mais evidente nos hotéis. Podiam ser só não-lugares. Pelo óbvio. Mas o bom é não serem isso de não-lugares. E então, gosto sempre da sensação de chegar a um quarto vazio de hotel. Por chegar a um lugar que nunca significou nada antes. Por ser um espaço onde vou habitar transitoriamente. Nenhum dos objectos significa nada. Não fui eu numa viagem qualquer. Não fui eu por um afecto qualquer. Não fui eu e um dos meus impulsos quaisquer. Nada de mim foi ali deixado previamente. Não havia nada meu. Antes de entrar, digo. Antes desse movimento simples, não havia nada. E no entanto. No entanto, há sempre aquele detalhe que faz com que assim que entre, passe a ser qualquer coisa que não havia antes. Procuro não deixar que as coisas passem incólumes. Mesmo as transitórias. Talvez por saber que aquilo que remanesce de cada uma delas não tem nada de transitório. Enquanto eu existir.
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