Não é só uma questão de território ou de geografia. Não é só aí que vive a integridade. Embora pareça nascer daí. Da terra. E de como as coisas se ligam a ela. As casas humildes, térreas e brancas. O cheiro a comida original, pão quente, sopa. A alma chega e permanece depois de partir, com as ervas e os aromas que vivem nas ervas espontâneas dos campos. Depois há as árvores. Gosto muito de as olhar. Dão-me sempre a ilusão de figuras humanizadas. E eu sei que isso está no meu olhar, mas olho para elas e penso que cansadas estão, que devotas são aos seus braços erguidos e regaços cheios.
A este lugar chega-se e parte-se sem plano. Muito quieto, mas atarefado no seu silêncio. Está perto da cidade. Mas ela respira à distância. Podemos escolher deambular pelas ruas pardacentas, deprimidas como quem sofre de um mal que dá para ir vivendo. Ou permanecermos ali, em casa.
A lua muito inteira como um queijo. Fica guardada na memória. E talvez fique para sempre ali, naquele lugar que me fez bem. A ver se volto, repito, sonhando acordada no meio do trabalho. A ver se acontece outra luz como a daquela noite. Enquanto a terra à volta fingia dormir. A fervilhar de vida, que estava. Nós é que achamos que a terra dorme. Mas não. Basta ouvir um bocadinho e percebe-se logo que não.
Do que me lembro mesmo é das manhãs de verão, frescas de arrepiar a pele e cheias de sol. Comer debaixo do alpendre, só, naquele silêncio conventual e austero de quem deixa por momentos nascer um deus, uma divindade feita se seiva e do ritmo do coração.
A ideia de recolhimento, ali. Melhor, a de acolhimento. Ou talvez seja só vontade de procurar um lugar que pareça imperturbável ante o mundo que acontece.
Lindo texto, Cátia! Espero que sejas mais assídua aqui no blog para não perder o hábito de o visitar!
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