Um viajante quando viaja leva pessoas, nem sempre pessoas físicas, às vezes memórias, pessoas que gostava que estivessem ali. Penso no que estarão a fazer. Se estarão bem. Se pensam em mim como eu nelas, lá está o meu egocentrismo a vir ao de cima...
Leva também companheiros de viagem. Os que não vão na bagagem, os que estão ali. Aprende-se muito sobre nós, sobretudo nesse convívio, nas palavras ditas e na paciência partilhada.
A Patricia é minha amiga. O Rui também. Tornamo-nos companheiros quase por acaso. Uma assiduidade carinhosa, esta. A de nos expandirmos pelo mundo com reciprocidade. A de partilharmos rotinas. De nos animarmos, nos dias que se adivinham difíceis. Coisas assim, que fazem com que abrandemos o passo ou nos apertemos mais na cama esquelética, que fazem com que descubramos lagoas segredas em clareiras de florestas ancestrais.
A Patrícia é minha amiga. Mesmo que não andemos em elétricas e femininas excentricidades. Mas eu sei isto. Num registo que ultrapassa a simpatia ou a empatia. Num registo que é assim como ela. Declarativa, franca, generosa e um sarcástica, como todos os seres inteligentes têm a obrigação de ser.
São muito curiosos os mecanismos que fazem com que as pessoas coincidam. Há aquilo de nos sentirmos ligados a pessoas que fazem parte do nosso mundo desde que conhecemos o nosso mundo. Depois há os percursos. Ditados por escolhas. Coisas que determinam outras. E há coisas destas. Completamente imponderáveis. Completamente do domínio da graça. Coincidir com alguém. Alguém que pela ordem previsível não faria parte do nosso mundo. Mas sim. Um dia acontece alguém que não era suposto. Que não estava para acontecer.
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