20/11/2010


Num deserto sem água, numa noite sem lua, numa terra nua, por maior que seja o desespero, nenhuma ausência é mais profunda que a tua!
Sophia de Mello Breyner Anderson

18/11/2010

Saudade

É preciso ter saudade para que o pensamento
desenhe o teu corpo perfeito,
e torne insignificante as imperfeições,
Ponto de luz no meu pensamento.
É preciso que venha a saudade
amachucar o trevo que entrelaço no cabelo
as palavras de amor desde há muito guardadas,
o teu gesto antes da partida, para saber
que amar-te é como abrir uma janela
e respirar-te, salgado e luminoso, no mar.
É preciso esta saudade para eu sentir
como sinto - em mim – o lugar deixado vazio na minha vida
quanto não estás.
Esta noite tenho de fechar os meus olhos para ver-te.

07/11/2010

Sailing: Cascais - Senhora da Guia - Oeiras

Parados no cais de espera para fazer o check out:

A nossa vela grande ainda repousa, não tarda muito já a acordamos :)
 Saída da marina de Cascais.
 Céu e mar...hummm
 

 O tempo fica um pouco mais nublado. Está frio.
 Mais um bocadinho de sol e navegamos a boa velocidade para o Guincho.
 Vista do mar para a Senhora da Guia.

 Guincho ao fundo. Será que conseguimos?
 Com a aproximação ao Guincho o tempo muda, frio, chuva e muito vento.
 Marina de Oeiras. Depois da tempestade, a bonança!


Ainda não foi desta que chegamos ao Guincho, mas foi a primeira vez que fui para norte de Cascais e gostei. 
Quando saímos da marina o tempo estava morno e agradável, mas à medida que navegamos para norte o tempo ficou frio e chuvoso. Eu já tinha 3 camisolas vestidas e um casaco de lã, estava habilitada a fazer um documentário sobre a vida das cebolas, tantas camadas de roupa tinha em cima! 
Estava a recolher a genoa para estabilizar o barco e bati com a cabeça na retranca o que me fez largar o cabo, queimar os dedos e largar logo ali meia dúzia de palavrões de caserna. Foi mais ou menos nesta altura que achamos prudente inverter marcha e regressar mais cedo para o nosso destino, Oeiras.
Assim que começamos a velejar no sentido do rio o tempo melhorou e o sol voltou. 
Com estas tréguas aproveitamos para comer o nosso farnel, como o pão estava tão frio que facilmente podia ser considerado uma arma de auto-defesa, o meu rapaz resolveu aquecê-lo. Assim, fiquei ao leme enquanto ele foi transformar a nossa sandes em pão crocante e quentinho que acompanhamos com chá quente que tínhamos reservado no termo. É nestas alturas que as coisas simples da vida parecem manjares!
Atracamos em Oeiras com dificuldade. (temos de treinar melhor as chegadas ao cais). Arrastamos com a nossa vela a cana de pesca do barco vizinho, que de I passou a L ups!

Quietness, acordar na marina de Cascais

Pequeno-almoço a bordo: Chá quentinho!

 Finger vazio.
O vento arrepia a água como se fosse pele.
Vista do nosso "terraço":
Marina de Cascais de manhã (8h45)
 Os nossos vizinhos e os seus nomes catitas:


Outros vizinhos:



 Vista da entrada no nosso cais:



 Cabos e mangueiras sempre arrumadas na perfeição! Um bom marinheiro tem orgulho nos detalhes.
 Os mastros dos veleiros erguem-se cortando o azul. Uma adriça esquecida bate continuamente como se chamasse o dono para o mar.
  Em cada mastro uma bandeira ondula ao vento.
 O mar intensamente verde e tranquilo, aqui, protegido do vento.

 Cunho ao sol.
  Texturas: Madeira e Água.

 Espelho d'água.
  Happy feet! :)
 A faina dos outros.
 
 
Acordamos bastante cedo no nosso quarto pequeno na proa do veleiro. Tem a forma de um triângulo invertido, cuja base deve rondar os 20 cm (pés) e a topo uns 150 cm (cabeceira).
O ar frio e húmido rapidamente nos desperta.
Fazemos uma mochila com o necessário e vamos tomar banho ao balneário, esta parte indigente é engraçada, faz de todos os que aqui pernoitam se sintam fraternalmente ligados, assim, logo que meto a cabeça de fora do convés recebo um "Good Morning" vindo do meu vizinho sueco do barco ao lado que salta para a passadeira de madeira em t-shirt e calções, mais ou menos como eu teria feito em Agosto.
Arrumamos tudo. É fundamental que não haja nada solto para não cair quando começarmos a velejar.
Bebo um chá quente antes de zarpar.
Estamos prontos!

06/11/2010

Sailing: Oeiras-Cascais

 Saída da marina de Oeiras. 14h

Logo à noite vou dormir aqui. Convém não haver discussões, não há muito espaço hehehe.
Luz solar 14h.
 Velejadores no Bugio.
 Veja junto à costa.
 Sintra ao longe envolta em nevoeiro.

Luz solar. 15h30




 O melhor amigo no mar :)


 À proa.


O vento nas velas.



Mar de prata. Luz solar às 17h.
Outras embarcações...um bocadinho....mais rápidas.


O meu primeiro pôr do sol à vela.
 Baía de Cascais



O dia estava quente quando saímos de casa, uma dádiva se pensarmos que estamos no final da primeira semana de Novembro.
Sol, uma ligeira neblina, céu azul e uma temperatura que devia passar os 20º. 
Saí de t-shirt como qualquer miúda gabarola sabendo que a minha coragem tinha os minutos contados. Assim que chegamos à marina, aparelhamos o barco. É-me sempre difícil recordar de memória de todos os preparativos antes de zarpar, apesar de já ter feito a mesma tarefa repetidas vezes, acho que o medo de me esquecer faz com que isso realmente aconteça.
Rumamos directos à Costa da Caparica, com um ventinho agradável e morno.
Devíamos estar a avançar mais depressa para estes nós. Olhamos para a vela para a afinar e ele dá-se conta de que eu tinha colocado a adriça mal. Em vez de estar no primeiro furo, junto ao mastro, estava no segundo mais afastado que impedia de esticar a vela na perfeição. Coro embaraçada, é um erro básico que nos vai custar velocidade, já para não dizer que é visualmente cómico como quando abotoamos a camisa toda com um botão na casa errada e parecemos encarquilhados e retorcidos. Bolas! 
A neblina encobria um pouco as linhas do horizonte, pelo que não podíamos ver com nitidez o seu recorte. As cores, essas sim, nítidas e volumosas como num quadro a pastel eram bastante interessantes de contemplar. Nunca me canso de perscrutar com minúcia o horizonte e a sua infinidade de singulares. É uma visão quase atirada para fora da realidade esta que o mar nos permite ter de terra. Um distanciamento provisório que nos retém num limbo temporal onde há uma pausa suficientemente grande para nos questionarmos acerca dos "porquês".
Porquê aquelas duas torres que nada têm a ver com o resto da paisagem, Porquê a razão de existir daquele forte, Porquê aquele amontoado de casas, Porquê esta construção sem charme ombreada por palacetes e challets novecentistas?
Assim que pisamos a madeira salgada do veleiro é como se um parágrafo gigantesco se abrisse nas nossas vidas, uma abreviação recheada de conteúdo pautada por uma respiração diferente.
Depois de quase duas horas mar a dentro, já ombro a ombro com a Costa da Caparica era hora de mudar de bordo e rumar direitos da Cascais. Convinha chegar ainda com alguma luz para facilitar as manobras na marina.
Viramos de bordo andamos algumas milhas a uma velocidade muito baixa até que atingimos a estonteante velocidade de 0.0! O que é mais ou menos o equivalente a dizer que não havia vento e como também não há remos, só nos resta o motor. Bah! 
É bastante irritante e decepcionante quando em mar alto o vento nos abandona sem sequer um Volto Já ou Vou ali já venho. Indicente! Há quem diga que é com pouco vento que se ganham regatas pois é aí que se pode por à prova a real perícia dos velejadores, mas regatas sem vento também não as há. É a primeira vez que me deparo com esta situação.
Ligamos o motor e lá fomos nós. 
Já bastante mais perto, na zona do Estoril e ainda com bastante tempo até ao pôr do sol, voltamos a desligar o motor e andamos uns belos minutos à deriva ao sabor da maré. Fomos até à proa ver a baía de Cascais ao fundo, coladinhos um ao outro para nos protegermos do frio que com o aproximar da noite aumentava. Poderão dizer que há dificilmente coisas mais clichés que um par de namorados armados em Kate Winslet e Leonardo di Caprio no Titanic, é verdade, mas quanto a isso, em boa verdade, "estamo-nos a borrifar" também há poucas coisas que saibam tão bem como ter por xaile os braços quentes e a força tranquila de quem nos ama.
Subitamente voltamos a apanhar vento. Afinamos as velas e apontamos a mareação à marina de cascais enquanto o sol tombava no horizonte. O vento frio levantava-se enregelando-me as pontas dos dedos onde a luva não chega. Não sei se tenho frio, se me sinto viva, se ambos são tão cruamente parte do mesmo que é impossível um sentimento simples da pele.
O sol deixa-nos. Sorrimos cúmplices no meio da azáfama. Recolher as velas, colocas as defensas para levar o veleiro para a marina, preparar cabos para conversões. É nestas alturas que me sinto completamente aquém do necessário, devia ter mais força e destreza, penso. Ele espera por mim. Nunca se zanga, corrige-me e explica-me pela enésima vez o que tenho de fazer. Adoro-o por isso.
Chegamos à marina. Check in. Dão-nos um lugar e à nossa frente aparece um insuflável a indicar o caminho. O lugar é apertado e longe da entrada apesar de não haver muitas embarcações -  equivalente a um estacionamento de supermercado vazio em que o nosso lugar é entre uma carrinha de 7 lugares colada ao risco e o pilar do edifício. 
Tentamos duas vezes sem sucesso apontar o barco para atracar. O rapaz da marina oferece-se para ajudar e aponta para nós o insuflável em aceleração. hummm! será este fulano doido?! O barco a recuar leva uma pantufada seca e vira imediatamente fazendo a curva e entrado no espaço livre como quem calça uma luva. Isto comigo pendurada com metade do corpo de fora preparada para lançar os cabos das amarras. Se ficam impressionados com os trapezistas e domadores de leões do circo deviam ter visto era manobra.
Terra!
Agora repor energias. :) 2 Mojitos se faz favor!
Uma entrada do chef de bife de robalo com redução de coca-cola. Inovador e muito bom ao contrário do que previra, um sabor agradável semelhante a confitado, mas ligeiramente mais avinagrado. Depois, sopa de peixe, carpaccio de camarão, vieiras com risotto de espargos e bifinhos de porco preto com migas de tomate.
Tudo absolutamente delicioso e com um serviço 5,5*.
Mais mojitos!
Voltamos para o barco cansados, ensonados e felizes.