Autos de viagem por terra e por mar, para além do mundo, onde a contemplação nos levar.
20/06/2010
Salema - Junho 2010
Gostamos de viajar para sul como as aves migratórias fugindo ao frio.
Portanto são inevitáveis aos viagens até ao sul do país, o Algarve. Infelizmente para muitos o Algarve é sinónimo de pouco mais de Julho e Agosto, praia, escaldões, noitadas e engates fáceis aos "bifes" de férias. É um turismo divertido para um fim de semana é certo, as discotecas, a cor, a animação, o cheiro a frango assado com piri-piri e sardinhas a pingar na grelha, os copos, a malta, as ressacas, os hotéis apinhados. Se dissesse que não gosto de uma bela noitada até cair e os pés deixarem de se sentir mentia, mas aflige-me que pouco mais se conheça que esse Algarve de plástico, brilhante e superficial.
Seguindo a linha da costa para barlavento, deixando para trás Albufeira, Portimão, Lagos, aproxima-mo-nos da costa vicentina.
Aí, entre colinas, já longe dos turistas ávidos de emoções fortes e alucinantes da noite algarvia, longe do ruído da corja ruidosa da juventude em férias, mas também ainda longe da paisagem agreste de Sagres procurada por surfistas, hippies e fãs da natureza, encontramos Salema.
A vila é pequena. Do alto da colina onde normalmente ficamos hospedados, no The View, vemos a vila toda semeada semeada de casas pintadas de branco, desde a colina até ao mar. O crescimento tem sido feito à custa do crescimento da comunidade de ingleses, alemães e holandeses reformados que se deixam fascinar por esta tranquilidade morna.
O que mais gosto deste sítio é o mar.
Há qualquer coisa de absolutamente inebriante no azul do mar de Salema.
É límpido, mas não é cristalino e transparente, é uma limpidez grave, como se tivesse o mar dentro e o fosse parindo aos poucos. Como se todo o azul do céu estivesse a escorrer de dentro daquele ventre profundo e líquido, carregado de histórias de gente de lágrimas e sorrisos salgados.
Desta vez levanto-me mais cedo do que o costume, trouxemos os miúdos e eles acordaram com a alvorada, sinto os seus pés pequenos e descalços a correrem pela casa como formigas ansiosas perto de açúcar. A proximidade da praia enche-os de excitação. Há qualquer coisa que o mar acorda em nós em qualquer idade e que todas as palavras e reflexões sobre o assunto se mostram inócuas para o explicar. Pequeno almoço tomado, descemos os três até à praia. Devem ser oito da manhã. A areia, fina e branca ainda não tem pegadas, nós e as gaivotas somos os primeiros a revolvê-la e a deixar rasto. As gaivotas voam energicamente à volta do último barco de pesca na ânsia de apanhar todo o peixe que se escape das redes. A primeira que apanha um peixe é agressivamente saqueada de todos os quadrantes pelo que a única parte do peixe que consegue engolir é a pequena porção pelo qual o segurava, tudo o resto desaparece por entre dezenas de bicos esfomeados.
A lota de venda de peixe é pouco maior que um pequeno quintal e no passeio à frente da praia meia dúzia de agricultores vendem os produtos da horta e tentam fazer algum negócio, tão difícil para estes lados. Gosto do cheiro desta fruta e destes legumes sadios. Infelizmente não trouxe dinheiro e voltar ao apartamento com os miúdos a reboque parece-me uma tarefa pouco apetecível. Uma das vantagens de ficar aqui é o facto de se poder alugar um apartamento a bom preço, todo equipado e se poder fazer grandes churrascadas na varanda. Comer ao ar livre, quando não há mosquitos e a vista é de sonho, é possivelmente o melhor tempero de uma refeição.
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