Chego o meu corpo ao teu pela manhã
à primeira hora
quando os pássaros inauguram a aurora.
Lá em baixo os carros
rangem os membros de aço
alguém chega mais o casaco ao peito
uma criança é carregada a dormir
ao ombro do pai.
É domingo
O mundo é outro
A rua quase deserta parece uma boca desdentada
com buracos negros, feios.
Chego o meu corpo ao teu
no torpor do pensamento
aspiro o teu perfume como se fosse todo o meu ar.
Agradeço o facto de não ter Deus
assim posso confiar a este momento
toda a perfeição de uma eternidade.
Autos de viagem por terra e por mar, para além do mundo, onde a contemplação nos levar.
15/01/2012
10/01/2012
Pôr do Sol às fatias
Os meus fins de dia não são bem fins. Mais princípios. Gosto assim. Melhor, preciso que seja assim. Por saber que durante a outra parte do dia, esperei silenciosamente pelo princípio do fim. Não daquela maneira que não vive o que está a acontecer. Não é isso. É por gostar da libertação de pensar na possibilidade de chegar ao tal princípio do fim. E saber que, assim que se fecha a porta atrás de mim, se dá início às coisas que podem ser aquilo que eu quiser que sejam. Coisas mais ou menos imperceptíveis. Coisas assim como ver a luz a acabar na janela. O douradp rubro salgar o céu. E sentir que o fluir do tempo é sábio. Que já vi muitas vezes o tempo passar, como se fosse um segredo, como só eu soubesse que ele passa. Depois, volto o olhar para dentro. E sei que isso pede lareira. Mais um bocadinho de tempo e são coisas só para mim. A seguir, um gesto reiterado. Um cálice de vinho doce ou um chá? Opostos, nem tanto, gémeos de alma quente, ambos dádiva de Ceres. O quente pede mais. Quase sempre, coisas que não são bem de sentar à mesa. Um bocadinho cinéticas, uma fatia de queijo numa fatia de broa, por exemplo.
Enoteca do Castelo, AW
Melhor Pão de Ló do Universo, JVentura
Compassos. E que faz com que o fim de dia seja mais princípio. Ainda mais princípio, assim.
01/01/2012
Nasce mais um ano
2012 começa agora a florir!
Com ameaça de muita dificuldade, notícias de austeridade, sonho de emigrar para novos países e novos aventuras.
Sinto que tenho tudo o que preciso para se feliz debaixo deste tecto e, contudo, anseio mais. Experimentar coisas novas, certamente tentar e falhar muita coisa, vencer alguma.
Começo este novo ano com um dia no sofá, Tv ligada sem som, o André dorme, ouço-o respirar, quase tão alto como os meus pensamentos é o barulho do ar condicionado que aquece a sala.
Era possível se quisesse prever quase tudo deste novo ano, assim como era possível que quase todas as previsões falhassem.
A vida é assim, praticamente certa e completamente inesperada.
Vou deixando por aqui algumas migalhas que me permitam muito mais tarde poder reconstituir estes dias, mesmo sem papel, permanecem os diários.
Com ameaça de muita dificuldade, notícias de austeridade, sonho de emigrar para novos países e novos aventuras.
Sinto que tenho tudo o que preciso para se feliz debaixo deste tecto e, contudo, anseio mais. Experimentar coisas novas, certamente tentar e falhar muita coisa, vencer alguma.
Começo este novo ano com um dia no sofá, Tv ligada sem som, o André dorme, ouço-o respirar, quase tão alto como os meus pensamentos é o barulho do ar condicionado que aquece a sala.
Era possível se quisesse prever quase tudo deste novo ano, assim como era possível que quase todas as previsões falhassem.
A vida é assim, praticamente certa e completamente inesperada.
Vou deixando por aqui algumas migalhas que me permitam muito mais tarde poder reconstituir estes dias, mesmo sem papel, permanecem os diários.
31/12/2011
10...9...8...7...6...5...4...3...2...1...
E foi assim que fizemos a passagem de ano!
A ver TV é verdade, nem parece meu. A verdade é que nos rimos a bom rir à custa desta triste coisa chamada "casa dos segredos" que parece ter escolhido as pessoas mais burras, frívolas e parolas de Portugal.
Em casa da Patrícia, com boa comidinha, alguma bebida e muita gargalhada lá fizemos a contagem decrescente, engolimos as passas, brindámos com champanhe e demos os beijinhos costumados.
Só faltou a roupa interior azul nova, mas achei que já seria piroseira a mais :P
25/12/2011
O nosso Natal 2011 em Portalegre
O que eu mais gosto no Natal é ser uma altura de união e generosidade, mas também de confusão. Gosto da azáfama na cozinha, da confusão das crianças na sala, da lareira acessa, dos filhos a chegar a casa dos cais, da maneira como a casa se enche.
A cores e os cheiros são únicos e cheios de calor.
Também gosto do facto de cada um se esforçar por ser melhor, mais paciente, melhor ouvinte. Parece que nos amplifica o coração.
Este Natal em Portalegre a família reuniu-se no fim de semana antes (16-18).
Chegamos sexta feira à noite antes dos outros e tínhamos uma ceia divinal à espera com pãozinho acabado de fazer, queijo e enchidos. Impossível descrever como estava bom.
No dia seguinte à tarde, chegou a criançada toda, cada vez mais crescidos e curiosos.
A sala da televisão encheu-se de brinquedos e traquinices.
Houve cabrito e bacalhau no forno. As broas da tradição e o pudim de pão da avó Alda que contra todas as minhas previsões é bom! :) Também havia uma mousse de maracujá deliciosa.
Trocaram-se presentes homemade, eu dei marcadores de livros, recebi doces e bolachinhas da Bimby, também um capaz de produtos caseiros que nos deixou água na boca.
No domingo pela tarde, cada um voltou a sua casa, com sol e um sorriso.
27/11/2011
13/11/2011
Feira da Castanha de Marvão e 1º fim de semana de Outono 2011 no Areeiro
Saímos de Lisboa sábado de manhã para mais um fim de semana no sossego do Alentejo, na casinha de Portalegre.
A viagem foi rápida e chegamos mesmo a tempo do almoço. Assim que abri a porta, veio-me imediatamente o cheiro da lareira, aquele aroma quente e rural que nenhum aquecedor do mundo consegue dar. Pode-se replicar o calor, mas não se replica a experiência.
Pousamos a mala no quarto e fui logo espreitar a sala grande, quentinha e acolhedora.
Por feliz coincidência, calhou precisamente este fim de semana a festa da castanha de Marvão.
Depois de um belo almoço, metemo-nos no carro e fomos até Marvão, mas devido ao muito trânsito fomos obrigados a estacionar 2km abaixo da vila e ir a pé. Estrada cima, vi à beira do alcatrão um muro para uma estrada de calçada que me intrigou e que resolvemos seguir. A minha curiosidade foi recompensado, ao contrário do que anunciam os provérbios e encontramos a estrada antiga que ligava Castelo de Vide a Marvão.
As cores e a quietude do caminho são de uma beleza de aguarela, a perfeição das pedras angulares, irregulares, desgastadas pelos invernos e verões sucessivos, imaginar ancestrais caminhantes por aqui. Conversas todas, outras vidas e outras tradições.
O Alentejo tem estes tesouros escondidos só partilhados com quem tem vagar e alma com espaço e ouvidos.
Marvão à vista.
Tão bonito foi o percurso que tive de o repetir no dia seguinte, Domingo, com uma companhia mais apta a caminhadas :)
Subimos com o fresco da manhã e os ventos das estepes a estrada antiga até Marvão.
Demoramo-nos pelas ruas cheias de gente, pelo labor dos artesanatos, sorvemos no ar os aromas das castanhas assadas, do folclores e dos tambores. Deixamo-nos recuar no tempo sem resistência, às origens do que é nosso e que esquecemos na cidade.
Bordados com casca de castanha e pinturas com o mesmo tema.
Compramos castanhas e nozes a peso - gostava dever uma destas no Continente!
Ruas cheias de tradição.
Nacos de touro e porco tirados das histórias do Astérix.
Tambores e pifarradas medievais.
Voltamos pelo mesmo caminho onde a cor das árvores parece acessa e o rumor da brisa que passa e me gela as mãos, me aquece o coração.
Hoje fui feliz aqui.
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