Parece veludo branco, quando se olha. Num primeiro gesto, dá-se conta de haver mais qualquer coisa. Isso é o que acontece ao olhar. Logo a seguir, vem a parte em que se sente. Aquele efeito de uma sopa quentinha. Penso sempre que não deixa de ser curioso. Porque é uma daquelas coisas de todos os dias, no fundo. Uma sopa faz-se muito rápido, a maior parte das vezes. Não obedece a procedimentos muito elaborados. A base é simples, mesmo que possamos complicá-la. Ou sofisticá-la. Em todo o caso, aquilo que tenho aprendido nestes anos todos, é que as sopas mais simples são as que fazem melhor. Todos os dias isto. Até pode ter sido um dia complicado. Até pode ter acontecido sentir que não se é mesmo nada. Mas o ritual de fazer uma sopa, por ser tão humilde, tão à medida das nossas limitações, reconcilia-nos com aquilo que em nós vai abaixo. Seja o que for que aconteça, ser capaz de fazer uma sopa, há-de ser sempre possibilidade de colo. Daqueles que não se pede a ninguém. Como se pudéssemos olhar-nos de fora e concedermo-nos o conforto de um colo. Seja o que for que venha por aí.
Autos de viagem por terra e por mar, para além do mundo, onde a contemplação nos levar.
06/03/2012
05/03/2012
Agora mesmo...
No meio da confusão, do meu dia mais cheio
Vem-me uma saudade súbita
Do teu sorriso
Do teu abraço
Adormecia agora no teu regaço.
Sonho impreciso,
Amar-te é como andar de manga curta,
Felicidade e ternura,
És o meu verão que sempre dura.
02/03/2012
Miami, por do sol antes de apanhar o avião
"Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensações uma religião e uma política, para esse, o primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, é o sentir as coisas mínimas extraordinária e desmedidamente. "
Livro do Desassossego - Educação Sentimental
Bernardo Soares
20/02/2012
Recordação de Um dia na Praia
Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Amo-te como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
Amo-te assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim amo-te porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,...,
Perguntas que insistiam na areia....
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono
Pablo Neruda
15/01/2012
Pela manhã
Chego o meu corpo ao teu pela manhã
à primeira hora
quando os pássaros inauguram a aurora.
Lá em baixo os carros
rangem os membros de aço
alguém chega mais o casaco ao peito
uma criança é carregada a dormir
ao ombro do pai.
É domingo
O mundo é outro
A rua quase deserta parece uma boca desdentada
com buracos negros, feios.
Chego o meu corpo ao teu
no torpor do pensamento
aspiro o teu perfume como se fosse todo o meu ar.
Agradeço o facto de não ter Deus
assim posso confiar a este momento
toda a perfeição de uma eternidade.
à primeira hora
quando os pássaros inauguram a aurora.
Lá em baixo os carros
rangem os membros de aço
alguém chega mais o casaco ao peito
uma criança é carregada a dormir
ao ombro do pai.
É domingo
O mundo é outro
A rua quase deserta parece uma boca desdentada
com buracos negros, feios.
Chego o meu corpo ao teu
no torpor do pensamento
aspiro o teu perfume como se fosse todo o meu ar.
Agradeço o facto de não ter Deus
assim posso confiar a este momento
toda a perfeição de uma eternidade.
10/01/2012
Pôr do Sol às fatias
Os meus fins de dia não são bem fins. Mais princípios. Gosto assim. Melhor, preciso que seja assim. Por saber que durante a outra parte do dia, esperei silenciosamente pelo princípio do fim. Não daquela maneira que não vive o que está a acontecer. Não é isso. É por gostar da libertação de pensar na possibilidade de chegar ao tal princípio do fim. E saber que, assim que se fecha a porta atrás de mim, se dá início às coisas que podem ser aquilo que eu quiser que sejam. Coisas mais ou menos imperceptíveis. Coisas assim como ver a luz a acabar na janela. O douradp rubro salgar o céu. E sentir que o fluir do tempo é sábio. Que já vi muitas vezes o tempo passar, como se fosse um segredo, como só eu soubesse que ele passa. Depois, volto o olhar para dentro. E sei que isso pede lareira. Mais um bocadinho de tempo e são coisas só para mim. A seguir, um gesto reiterado. Um cálice de vinho doce ou um chá? Opostos, nem tanto, gémeos de alma quente, ambos dádiva de Ceres. O quente pede mais. Quase sempre, coisas que não são bem de sentar à mesa. Um bocadinho cinéticas, uma fatia de queijo numa fatia de broa, por exemplo.
Enoteca do Castelo, AW
Melhor Pão de Ló do Universo, JVentura
Compassos. E que faz com que o fim de dia seja mais princípio. Ainda mais princípio, assim.
01/01/2012
Nasce mais um ano
2012 começa agora a florir!
Com ameaça de muita dificuldade, notícias de austeridade, sonho de emigrar para novos países e novos aventuras.
Sinto que tenho tudo o que preciso para se feliz debaixo deste tecto e, contudo, anseio mais. Experimentar coisas novas, certamente tentar e falhar muita coisa, vencer alguma.
Começo este novo ano com um dia no sofá, Tv ligada sem som, o André dorme, ouço-o respirar, quase tão alto como os meus pensamentos é o barulho do ar condicionado que aquece a sala.
Era possível se quisesse prever quase tudo deste novo ano, assim como era possível que quase todas as previsões falhassem.
A vida é assim, praticamente certa e completamente inesperada.
Vou deixando por aqui algumas migalhas que me permitam muito mais tarde poder reconstituir estes dias, mesmo sem papel, permanecem os diários.
Com ameaça de muita dificuldade, notícias de austeridade, sonho de emigrar para novos países e novos aventuras.
Sinto que tenho tudo o que preciso para se feliz debaixo deste tecto e, contudo, anseio mais. Experimentar coisas novas, certamente tentar e falhar muita coisa, vencer alguma.
Começo este novo ano com um dia no sofá, Tv ligada sem som, o André dorme, ouço-o respirar, quase tão alto como os meus pensamentos é o barulho do ar condicionado que aquece a sala.
Era possível se quisesse prever quase tudo deste novo ano, assim como era possível que quase todas as previsões falhassem.
A vida é assim, praticamente certa e completamente inesperada.
Vou deixando por aqui algumas migalhas que me permitam muito mais tarde poder reconstituir estes dias, mesmo sem papel, permanecem os diários.
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