02/03/2012

Miami, por do sol antes de apanhar o avião


"Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensações uma religião e uma política, para esse, o primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, é o sentir as coisas mínimas extraordinária e desmedidamente. "

Livro do Desassossego - Educação Sentimental
Bernardo Soares

20/02/2012

Recordação de Um dia na Praia


Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Amo-te como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
Amo-te assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim amo-te porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,...,
Perguntas que insistiam na areia....
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono
Pablo Neruda

15/01/2012

Pela manhã

Chego o meu corpo ao teu pela manhã
à primeira hora
quando os pássaros inauguram a aurora.

Lá em baixo os carros
rangem os membros de aço
alguém chega mais o casaco ao peito
uma criança é carregada a dormir
ao ombro do pai.

É domingo
O mundo é outro
A rua quase deserta parece uma boca desdentada
com buracos negros, feios.

Chego o meu corpo ao teu
no torpor do pensamento
aspiro o teu perfume como se fosse todo o meu ar.
Agradeço o facto de não ter Deus
assim posso confiar a este momento
toda a perfeição de uma eternidade.

10/01/2012

Pôr do Sol às fatias

Os meus fins de dia não são bem fins. Mais princípios. Gosto assim. Melhor, preciso que seja assim. Por saber que durante a outra parte do dia, esperei silenciosamente pelo princípio do fim. Não daquela maneira que não vive o que está a acontecer. Não é isso. É por gostar da libertação de pensar na possibilidade de chegar ao tal princípio do fim. E saber que, assim que se fecha a porta atrás de mim, se dá início às coisas que podem ser aquilo que eu quiser que sejam. Coisas mais ou menos imperceptíveis. Coisas assim como ver a luz a acabar na janela. O douradp rubro salgar o céu. E sentir que o fluir do tempo é sábio. Que já vi muitas vezes o tempo passar, como se fosse um segredo, como só eu soubesse que ele passa. Depois, volto o olhar para dentro. E sei que isso pede lareira. Mais um bocadinho de tempo e são coisas só para mim. A seguir, um gesto reiterado. Um cálice de vinho doce ou um chá? Opostos, nem tanto, gémeos de alma quente, ambos dádiva de Ceres. O quente pede mais. Quase sempre, coisas que não são bem de sentar à mesa. Um bocadinho cinéticas, uma fatia de queijo numa fatia de broa, por exemplo.
 Enoteca do Castelo, AW
Melhor Pão de Ló do Universo, JVentura
Compassos. E que faz com que o fim de dia seja mais princípio. Ainda mais princípio, assim.

01/01/2012

Nasce mais um ano

2012 começa agora a florir!
Com ameaça de muita dificuldade, notícias de austeridade,  sonho de emigrar para novos países e novos aventuras.
Sinto que tenho tudo o que preciso para se feliz debaixo deste tecto e, contudo, anseio mais. Experimentar coisas novas, certamente tentar e falhar muita coisa, vencer alguma.
Começo este novo ano com um dia no sofá, Tv ligada sem som, o André dorme, ouço-o respirar, quase tão alto como os meus pensamentos é o barulho do ar condicionado que aquece a sala.
Era possível se quisesse prever quase tudo deste novo ano, assim como era possível que quase todas as previsões falhassem.
A vida é assim, praticamente certa e completamente inesperada.
Vou deixando por aqui algumas migalhas que me permitam muito mais tarde poder reconstituir estes dias, mesmo sem papel, permanecem os diários.

31/12/2011

10...9...8...7...6...5...4...3...2...1...


E foi assim que fizemos a passagem de ano!
A ver TV é verdade, nem parece meu. A verdade é que nos rimos a bom rir à custa desta triste coisa chamada "casa dos segredos" que parece ter escolhido as pessoas mais burras, frívolas e parolas de Portugal.
Em casa da Patrícia, com boa comidinha, alguma bebida e muita gargalhada lá fizemos a contagem decrescente, engolimos as passas, brindámos com champanhe e demos os beijinhos costumados.
Só faltou a roupa interior azul nova, mas achei que já seria piroseira a mais :P

25/12/2011

O nosso Natal 2011 em Portalegre




O que eu mais gosto no Natal é ser uma altura de união e generosidade, mas também de confusão. Gosto da azáfama na cozinha, da confusão das crianças na sala, da lareira acessa, dos filhos a chegar a casa dos cais, da maneira como a casa se enche.
A cores e os cheiros são únicos e cheios de calor.
Também gosto do facto de cada um se esforçar por ser melhor, mais paciente, melhor ouvinte. Parece que nos amplifica o coração.

Este Natal em Portalegre a família reuniu-se no fim de semana antes (16-18).
Chegamos sexta feira à noite antes dos outros e tínhamos uma ceia divinal à espera com pãozinho acabado de fazer, queijo e enchidos. Impossível descrever como estava bom.

No dia seguinte à tarde, chegou a criançada toda, cada vez mais crescidos e curiosos.
A sala da televisão encheu-se de brinquedos e traquinices.
Houve cabrito e bacalhau no forno. As broas da tradição e o pudim de pão da avó Alda que contra todas as minhas previsões é bom! :) Também havia uma mousse de maracujá deliciosa.
Trocaram-se presentes homemade, eu dei marcadores de livros, recebi doces e bolachinhas da Bimby, também um capaz de produtos caseiros que nos deixou água na boca.
No domingo pela tarde, cada um voltou a sua casa, com sol e um sorriso.